Drawing Room: o coração silencioso da casa
- Melissa Thiesen
- Aug 7
- 3 min read
Updated: Aug 11

Introdução
Existe um tipo de sala que parece respirar história.Ela não é grandiosa como um salão de banquetes, nem prática como uma cozinha.Mas foi, por séculos, o verdadeiro centro social das casas inglesas: a Drawing Room.
É ali que tudo começava — e continuava.Antes do jantar, após o jantar, no meio da tarde.Com chá, vinho do Porto, música, conversas, jogos, olhares.A Drawing Room era o espaço onde o tempo se reunia com elegância.
O que é uma Drawing Room?
A palavra Drawing Room vem de withdrawing room, ou seja, a sala para onde as pessoas se retiravam da formalidade do jantar.Mas o uso do termo foi muito além de um simples “lugar de retirada”.
A Drawing Room era o local onde os anfitriões recebiam os convidados antes do jantar, onde as pessoas se conheciam, conversavam, se observavam.Era lá que o piano era tocado, que se lia poesia, que se jogava cartas ou xadrez.Era um espaço para flertes discretos, para trocas intelectuais e momentos de convivência com estética.
Com o tempo, withdrawing room virou apenas drawing room — mas seu papel continuou o mesmo: oferecer uma pausa entre o mundo externo e os rituais formais.

O que acontecia nessa sala?
Ao chegar para um jantar em uma casa inglesa, os convidados eram conduzidos para a Drawing Room.Ali tomavam um primeiro drink, ouviam música, trocavam impressões — às vezes sob os olhares atentos da anfitriã, que conduzia com elegância o ritmo social da noite.
Após o jantar, todos voltavam para essa sala.Era um espaço mais íntimo, acolhedor, longe da formalidade da mesa posta.O vinho do Porto circulava, os jogos começavam, os instrumentos voltavam a tocar.
A Drawing Room era um cenário onde a vida acontecia com suavidade.Nada era urgente. Tudo era presença.
E o Afternoon Tea?
Durante os meses mais frios, o tradicional Afternoon Tea — que no verão acontecia nos jardins — era servido na Drawing Room.Esse detalhe mudou o próprio estilo da experiência.
Servido em mesas de centro, baixas, cercadas por sofás e poltronas, o Afternoon Tea assumia um ar mais íntimo e contemplativo.

E isso explica a diferença entre dois termos muitas vezes confundidos:
Afternoon Tea (também conhecido como Low Tea): servido em mesas baixas, mais elegante, acompanhado de doces finos, scones, sanduíches leves e chá — geralmente entre 15h e 17h.
High Tea: servido em mesas altas, com comidas mais substanciosas como ovos, tortas e carnes — uma refeição de fim de dia comum entre a classe trabalhadora.
Ou seja: o Afternoon Tea era servido na Drawing Room — lugar perfeito para conversas longas, aromas delicados e porcelanas aquecidas.
Um espaço de presença, arte e pausa
Mais do que uma sala, a Drawing Room era um conceito:Um espaço onde o tempo não era apressado.Onde a beleza estava nos detalhes: na música tocada ao fundo, na forma como se segurava uma xícara, na leitura silenciosa ou na troca de olhares entre convidados.
Ela era o espaço da escuta, da convivência, da contemplação social.Uma pausa elegante entre o cotidiano e o ritual.

A Drawing Room hoje
Hoje, poucas residências mantêm uma Drawing Room formal.Mas o que ela representa pode — e talvez deva — ser resgatado.
Em tempos de tanta pressa, oferecer um espaço onde as pessoas possam se encontrar com calma, beleza e significado é um gesto de resistência.Um respiro para a alma.
E talvez, quando você servir um chá, colocar uma música suave, e oferecer escuta verdadeira...Você esteja, de certa forma, criando sua própria Drawing Room.
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